29 dezembro 2009

Sobre um amor de súbito

             Mais uma vez, Carol havia sido vítima do amor. Amor repentino. Surgiu do nada. Mesmo. Fazia mais uma de suas entrevistas, e acabara se apaixonando por seu entrevistado. O que era um sinal de que, o grande amor da vida dela, aquele mesmo que havia conhecido no primeiro dia de aula, no longínquo primeiro semestre, aquele, havia sim ido para o espaço. Pelo menos provisoriamente. Ela sabia que não devia se apaixonar assim, tão fácil. Sofreria novamente, e dessa vez tinha todos os motivos para sofrer. Ele, o entrevistado, estava indo embora. Sua formatura aconteceria no final do ano.
       Ele, tão simpático, tão amável e louco. Sim, era louco por ter puxado assunto com ela, mais louca ainda, fato. Haviam se falado no máximo umas duas vezes, ou três, mas eles nem se conheciam... E parecia haver uma atração mútua. Sim, alguma coisa atraía-os, era algo diferente, algo inexplicável, mas algo que havia curado enfim o coração de Carol.
       Essa paixão, esse súbito sentimento, havia feito Carol esquecer o pérfido rapaz, aquele com atitudes firmes, com tatuagens no corpo. Aquele que havia lhe dado esperanças, havia lhe tirado o sono, lhe tirado a paciência, lhe sugado as energias. Mas agora, era diferente. O novo rapaz, era calmo, simpático, foi um cavalheiro cedendo uma rápida entrevista. Na hora, Carol nem deu bola, afinal era só mais um entrevistado, não tinha visto nada demais nele. Além disso, a relação com um entrevistado deveria ser extremamente profissional. Mas por ele abriria uma exceção. Só foi se dar por conta de que ele era um rapaz diferente e especial, no outro dia. Subitamente havia se interessado nele. Foi como se o cupido tivesse flechado-a. Foi realmente muito louco e estranho a forma como aconteceu. Carol adorava se apaixonar. Mas havia agora o medo. Sim. O medo de novamente se apaixonar, cair em mais uma rede de intrigas, falsas esperanças e devaneios mil. Talvez fosse um amor platônico, mas a maneira como se olhavam, dizia o contrário, havia sim uma grande atração, ele a queria tanto quanto ela o queria, mas o medo, o medo a impedia de raciocinar. Não sabia o que fazer, não sabia como agir, suava frio, sentia suas pernas tremendo como se estivesse no frio polar, com apenas um vestidinho veranil.
      Não conseguia dormir, não conseguia trabalhar direito, não conseguia estruturar suas frases e pensamentos. Tudo era muito, muito confuso. Clamava por um milagre, queria muito que um milagre acontecesse. Precisava daquele milagre, afinal se veriam apenas mais alguns dias e depois disso talvez nunca mais se vissem. Isso fazia com que ela perdesse as forças, a deixava cansada, desolada. Sentia-se inútil, sentia-se frágil, sentia-se apenas apaixonada. E torcia para que o sentimento fosse recíproco, ou que pelo menos, conseguisse arrancar mais alguns sorrisos dele. Os guardaria na memória, para sempre. Os levaria consigo para onde fosse. Ah, aquele sorriso leve, sorriso que lhe causava desejos, lhe acalmava e a fazia sentir-se feliz. Se conseguisse mais alguns sorrisos dele, sentiria-se viva. Teria sonhos tenros, lembrando daqueles olhos, daquela boca, das roupas engraçadas que ele usava.
     Precisava de um beijo, apenas um beijo, para saciar seus desejos, para enfim descansar, para assim respirar aliviada. Mas como conseguiria esse beijo, como faria para beijá-lo? Como? Pensava ela, já sem fôlego, com enorme sofreguidão. Com uma ânsia que lhe fazia o coração bater mais forte. Carol queria tanto cuidá-lo, protegê-lo, tê-lo em seus braços...
    Malditos corredores ulbrianos que faziam com que, mais uma vez, ela caísse nas armadilhas do amor, e escutasse Led pensando nele.

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