09 dezembro 2009

Mulher Paraguaia

Aquela chuva era incessante. Tudo decorreu enquanto ía para Assunção, Paraguai, num velho ônibus que mal comportava 40 passageiros, mas àquela feita já contava com 50. Eram seres estranhos e cansados, e tinha de encará-los por ter perdido o meu ônibus - algo que ocorre frequentemente. Nota: nunca converse em demasia com alguém enquanto espera seu ônibus, distrações ocorrem.

Mas havia aquela mulher. Uns vinte anos. Cabelos ruivos. Diferentemente dos demais, ela usava belos trajes, além de um perfume que chamava a atenção para ela. Como se o perfume fosse necessário... Eu a olhava. E ela percebera. Levantou-se, veio até mim, parando em meu lado - não havia lugar para se sentar. Nada disse, apenas rabiscou em um papel algo que parecia ser seu número para contato. Pegou o papel e o colocou suavemente em meu bolso. Tornou-se a sentar depois disso.

Todos ainda dormiam quando nos aproximamos de um posto de gasolina, onde daríamos uma parada rápida. Disse que todos dormiam, mas não era verdade; não notei quando um sujeito, aparentando seus quarenta anos e com pinta de quem malha há décadas, levantou-se. Seu aparente silêncio findou quando chegou a mim, gritando "Que pasó, cabrón?". Enquanto me empurrava, num portunhol compreensível para bom entendedor, disse ser o marido da moça que contei mais acima.

O ônibus parou. Tentei a sorte. Peguei meus sapatos, driblei aquele gigante e rápido desci para terra firme. Firme e molhada, afinal a chuva não havia parado nem um instante. Corri. E o ônibus arrancou. O homem não me perseguiu, mas estranhei o fato dele e sua mulher rirem enquanto eu andava para longe, mas ainda os observava.

Quando o ônibus já partia no horizonte, dei-me conta. Este mala estava sem a carteira e o guarda-chuva!

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