16 novembro 2009

OS DOIS LADOS DE UMA HISTÓRIA

Já não é de hoje que estou me decepcionando, em escala crescente, com as novelas do Manoel Carlos. Todos os personagens são bonitos, ricos, fúteis, poucos trabalham e nenhum acorda cedo. Juntando a isso infinitas cenas de paisagens e mais paisagens, belas de fato, mas que não acrescentam nada à história. Tudo isso acompanhado pelo inconfundível som da bossa nova ao fundo, entre uma cena e outra, ou alguma outra canção que gruda na cabeça feito carrapato. Atualmente, posso citar Shimbalaiê, que de tanto ouví-la, cheguei a pegar raiva da tal Maria Gadú, a cantora, mesmo sem conhecê-la. Marasmo pra cá, ócio pra lá, a trama da novela vai se desenvolvendo muito lentamente e só mesmo um telespectador com muita paciência não passa a mão no controle remoto ou vai dormir mais cedo. Porém, como é natural, é preciso observar Oriente e Ocidente. Se por um lado a história não empolga por não conter ritmo algum e tantos outros fatores desfavoráveis, por outro ela tem um autor que sabe como ninguém tratar da alma humana. Mais do que isso. Além de conhecê-la, sabe traduzi-la na forma de palavras que vão parar na boca dos personagens em momentos adequados e oportunos. A impressão que dá ao prestar atenção no texto dos personagens, é que eles falam exatamente aquilo que por vezes sentimos, mas que não temos coragem para colocar pra fora, por razões diversas.
Manoel Carlos é o tipo de autor que deve ser ouvido e não assistido. Como exemplo posso citar a cena que acabei de assistir, onde uma mãe via tirar satisfações com a madrasta da filha, sobre um acidente ocorrido com esta. A cena durou quase dez minutos e foi de uma dramaticidade intensa que me fez ficar imóvel diante dela, torcendo para que não terminasse logo. O único porém, foi ver a antológica protagonista Helena levando uma bofetada. Pra quem, assim como eu, estava acostumado a ver uma Helena forte, guerreira, batalhadora, que dava tapas, ao invés de recebê-los, pode ter ficado um tanto decepcionado e se perguntado quem era a verdadeira Helena nesta cena? Quem assistiu, sabe do que estou falando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário