24 novembro 2009

Entre medos e dúvidas, amar não deveria ser tão difícil

    Ela acordou sorrindo. Ela realmente estava diferente. E sorria estranhamente. Luísa nunca acordava de bom humor. Dizia ter uma vida amarga. Naquele dia ela estava com vontade de ir trabalhar, saiu de casa suspirando. Viu um Opala metálico azul, no engarrafamento de uma das principais avenidas da cidade. Opala era seu carro favorito. Sim, acreditem, ela era apaixonada por Opalas. Dizia para todos que um dia teria um Opala, pois este era um ''clássico automotivo''. Todos tiravam sarro dela, devido ao gosto exótico por coisas antigas. Mas este definitivamente não era o problema.
   Perdeu o ônibus das oito e dez da manhã. O ônibus em que o alvo de sua lascívia embarcara. Luísa pensava que nem todo o charme, malícia e luxúria do mundo adiantariam nesse caso, afinal ele tinha um canhão no dedo anular da mão esquerda. Canhão era a denominação usada por Luísa para dizer aliança. Achava um abuso que homens tão bonitos e tão jovens estivessem de aliança no dedo. Ainda mais na mão esquerda. Já que o rapaz usava uma aliança na mão esquerda, era casado, portanto. Ou então usava o adorno só para fazer charme. E era nisso que acreditava. Dos olhos dela saíam faíscas, ela não conseguia ser discreta, e talvez fosse por isso que ele a olhara. Pensava que ele podia muito bem ser o amor da vida dela, ora bolas, mesmo que fosse casado, podia largar tudo para ficar com ela, afinal já haviam trocado olhares. Mas naquele dia não. Luísa olhou com sofreguidão o T5 partindo, mas mesmo assim continuou com espiríto altivo, ainda estava motivada.
     No escritório, teve um dia calmo, seu chefe estava calmo, e até elogios ela ganhou naquele dia, enfim tivera seu trabalho reconhecido, mas Luísa andava com a cabeça nas nuvens. Perguntava para si, de onde saíra tanta felicidade? Logo ela, a rainha do infortúnio, a mais azarada das gurias de Porto Alegre, estava sentindo-se leve, tinha momentos de nostalgia e serenidade, depois de tantos anos. Dúvidas que permaneceram em sua mente por muitos e muitos dias...
                           
    Sentimento desse tipo não tem explicação. Ele surge naturalmente, te toma de súbito, causa delírios, te deixa simplesmente feliz. O nome desse sentimento é amor. Simples como a vida, bonito como o sorriso de uma criança, leve como uma pena... Então se um dia um sentimento desses te pegar de jeito, relaxe, aproveite o momento, carpe diem. Às vezes, fazemos como Luísa, ficamos com medo e com dúvida sobre o que devemos fazer, qual é a melhor atitude a ser tomada. Um grande erro... Portanto, não perca seu tempo procurando respostas, pois o amor é algo inexplicável, que existe para ser vivido e não decifrado.

16 novembro 2009

OS DOIS LADOS DE UMA HISTÓRIA

Já não é de hoje que estou me decepcionando, em escala crescente, com as novelas do Manoel Carlos. Todos os personagens são bonitos, ricos, fúteis, poucos trabalham e nenhum acorda cedo. Juntando a isso infinitas cenas de paisagens e mais paisagens, belas de fato, mas que não acrescentam nada à história. Tudo isso acompanhado pelo inconfundível som da bossa nova ao fundo, entre uma cena e outra, ou alguma outra canção que gruda na cabeça feito carrapato. Atualmente, posso citar Shimbalaiê, que de tanto ouví-la, cheguei a pegar raiva da tal Maria Gadú, a cantora, mesmo sem conhecê-la. Marasmo pra cá, ócio pra lá, a trama da novela vai se desenvolvendo muito lentamente e só mesmo um telespectador com muita paciência não passa a mão no controle remoto ou vai dormir mais cedo. Porém, como é natural, é preciso observar Oriente e Ocidente. Se por um lado a história não empolga por não conter ritmo algum e tantos outros fatores desfavoráveis, por outro ela tem um autor que sabe como ninguém tratar da alma humana. Mais do que isso. Além de conhecê-la, sabe traduzi-la na forma de palavras que vão parar na boca dos personagens em momentos adequados e oportunos. A impressão que dá ao prestar atenção no texto dos personagens, é que eles falam exatamente aquilo que por vezes sentimos, mas que não temos coragem para colocar pra fora, por razões diversas.
Manoel Carlos é o tipo de autor que deve ser ouvido e não assistido. Como exemplo posso citar a cena que acabei de assistir, onde uma mãe via tirar satisfações com a madrasta da filha, sobre um acidente ocorrido com esta. A cena durou quase dez minutos e foi de uma dramaticidade intensa que me fez ficar imóvel diante dela, torcendo para que não terminasse logo. O único porém, foi ver a antológica protagonista Helena levando uma bofetada. Pra quem, assim como eu, estava acostumado a ver uma Helena forte, guerreira, batalhadora, que dava tapas, ao invés de recebê-los, pode ter ficado um tanto decepcionado e se perguntado quem era a verdadeira Helena nesta cena? Quem assistiu, sabe do que estou falando.